Rafaela Sayuri Cicalise Takeshita
Brazil
Relatos de experiência dos bolsistas do Nikkei Scholarship “Projeto de realização dos sonhos” 〜 Rafaela Sayuri Cicalise Takeshita
Porque escolhou o Japão para estudar?
Eu sou veterinária, com interesse em bem-estar e conservação de primatas não humanos. Meu país de origem, o Brasil, tem uma vasta diversidade de espécies de primatas não humanos, com muitos ameaçados de extinção, devido a conflitos entre humanos e animais e às poucas informações disponíveis sobre sua biologia e ecologia. Apesar dessa situação, a pesquisa de primatas no Brasil ainda é bastante limitada, possivelmente afetada pelo limitado financiamento disponível para a pesquisa da fauna silvestre e pelo baixo número de pesquisadores qualificados. Por outro lado, o Japão tem um longo histórico de estudos dedicados à primatologia, não apenas no Japão, mas também no leste da Ásia, na África e em alguns estudos na América do Sul. Meu objetivo com a bolsa de estudos Nikkei foi aprender métodos não invasivos para monitorar a saúde e o estresse dos primatas e, no futuro, aplicar esses métodos em primatas neotropicais do Brasil, para contribuir para sua conservação.
Como foi a estadia no Japão?
Os 5 anos que passei como nikkei scholar foram muito produtivos para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. Na minha carreira profissional, adquiri experiência em análises laboratoriais e no trabalho de campo e desenvolvi projetos, o que resultou em várias publicações e aparições na mídia. Do meu lado pessoal, aprendi sobre cultura e costumes japoneses e fiz bons amigos japoneses. Inicialmente, senti que era um pouco difícil de integrar na comunidade japonesa, mas acabei aprendendo que as diferenças culturais e a linguagem desempenham um papel importante na superação dessa questão. Graças às atividades da Nippon Zaidan e da NFSA, tive muitas oportunidades de trocar experiências e informações com diferentes comunidades de japoneses, de estudantes do ensino médio a proprietários de grandes empresas de sucesso. Também aprendi sobre os principais problemas dos atuais nikkeis vivendo no Japão e participei de atividades para incentivá-los a seguir seus sonhos e em workshops para promover discussões entre japoneses e nikkeis.
Qual foi a forma de estudos e pesquisas?
Minha pesquisa tem foco nos mecanismos envolvidos na adaptação animal à variações ambientais, bem como na relação entre estresse e longevidade. Para isso, estou associando fatores biológicos, ambientais e sociais que influenciam os hormônios adrenais e gonadais em macacos e orangotangos japoneses por meio de amostras fecais. Os hormônios adrenais podem indicar o status de estresse e os hormônios gonadais indicam status reprodutivo. Entender como esses processos estão conectados é essencial para interpretar as mudanças fisiológicas ao longo da vida dos primatas. Tais informações nos ajudam a desenvolver métodos para determinar os níveis de estresse, assim como seus possíveis impactos na reprodução animal e nas chances de sobrevivência dos animais na natureza. O monitoramento regular de primatas selvagens também é necessário para avaliar a eficiência de estratégias de conservação para mitigar conflitos entre humanos e animais e para melhorar o bem-estar dos primatas em cativeiro.
Coletando dados de comportamento em macacos japoneses no Jigokudani Monkey Park em Nagano (Collecting behavioral data from snow monkeys at Jigokudani Monkey Park, Nagano Prefecture) Realizando análises laboratoriais no Primate Research Institute (conducting laboratorial analyses at the Primate Research Institute)
Através do estudo no exterior, houve alguma mudança na sua consciência como Nikkei?
Antes de vir para o Japão, eu não tinha noção dos problemas enfrentados pelos jovens nikkeis no Japão. A maioria deles tem dificuldade em se adaptar ao Japão e, ao invés de tentar se integrar à sociedade, eles permanecem em suas comunidades locais, com uma educação limitada em japonês. Isso contribui para a sua segregação social e reduz as oportunidades de se desenvolver profissionalmente no Japão. Da mesma forma, os japoneses que vivem no Brasil enfrentam problemas semelhantes para se adaptar às diferenças culturais. O Brasil tem muito a oferecer em termos de biodiversidade e cultura, e o Japão tem as ferramentas necessárias para explorar isso. E os nikkeis são o resultado de colaborações anteriores entre o Japão e o Brasil, que resultaram em benefícios mútuos. Como os nikkeis estão trabalhando para obter o melhor dos dois países, devemos inspirar jovens nikkeis a perseguir seus sonhos e ajudar a fortalecer o relacionamento entre o Japão e o Brasil.
Após o terminar os estudos, pode nos contar qual o caminho que seguirá?
Atualmente sou pesquisadora associada do Instituto de Pesquisa de Primatas (Primate Research Institute) da Universidade de Kyoto. Eu continuo minha pesquisa sobre bem-estar de primatas e auxilio na organização de workshops para promover a comunicação em inglês na ciência. Meu objetivo é continuar as contribuições para a primatologia e obter experiência de ensino para me ajudar a conseguir uma posição considerável no futuro. Também mantenho colaborações com minha universidade anterior no Brasil para contribuir com a pesquisa brasileira em primatologia e fortalecer suas colaborações internacionais. Frequentemente faço palestras para estudantes de graduação quando visito o Brasil, para explicar as possibilidades e os benefícios de estudar no exterior para o progresso da ciência.
Deixe uma mensagem para aqueles que estão pensando em estudar no exterior.
Esta é uma oportunidade única e valiosa para desenvolver sua carreira profissional e ampliar seus conhecimentos. Para aproveitar ao máximo essa experiência, preste especial atenção ao desenvolvimento de suas habilidades no idioma (inglês e japonês) e procure manter um bom relacionamento com as instituições japonesas e do se país de origem, visando sempre colaborações Aproveite as oportunidades de viajar, experimentar e descobrir. Mais conhecimento nunca é demais.